Restauro ao vivo – Sala da Capela de Delães

Dado o "Estado de Emergência" e as restrições em vigor, o lançamento do projeto “Restauro ao vivo” contemplado pelo Programa de Apoio à Cultura promovido pelo Município de Santa Maria da Feira, será adiado. Tal como a Campanha solidária de apadrinhamento das intervenções a realizar.

Apesar do Museu permanecer física e temporariamente encerrado, continua "ON" não só nas redes sociais, mas também na investigação e no trabalho de bastidores. Deste modo, procuraremos dar a conhecer o trabalho preparatório (investigação e descritivo estilístico e iconográfico, assim como o diagnóstico acerca do estado de conservação) das intervenções a efetivar nas 14 esculturas religiosas selecionadas e integradas na Sala da Capela de Delães. A cenografia na qual, ao longo de 2021 e assim que a pandemia o permitir, decorrerá o projeto “Restauro ao vivo”.

O espaço escolhido para o desenvolvimento de todas as ações do “Restauro ao vivo” programado para este ano de 2021 foi a “Sala da Capela de Delães”.

Tal como na “Sala da Capela” - a segunda do piso superior deste Museu –  a Sala da Capela de Delães evoca em grande medida uma nova ambiência de “Capela” ilusória. Reinterpretando o Património religioso português reunido e atribuindo-lhe funcionalidade distinta da original, na sua cenografia, ao nível da Talha dourada esta sala conjuga um exemplar de “Retábulo e Altar-mor”, diversos “Retábulos e Altares laterais”, um pretenso “Coro-alto” e “Sanefas”. Aliás, a própria extensão decorativa do tecto caracteriza-se pelo seu conjunto uniforme de pinturas de caixotão com linguagem plástica equivalente e iconografias Cristológica e Mariana. No geral, esta Sala continha uma combinação estrutural e artística diversa na sua origem, mas passível de reproduzir uma “Capela” que nunca o foi.

Durante algumas décadas, a informação veiculada associava a totalidade da Talha dourada incorporada neste perímetro ao pretenso “recheio” de uma Capela, talvez de esfera privada, situada em solo famalicense, correspondente à Vila de Delães. Todavia, esta informação sempre se revelou imprecisa e, à luz da investigação histórica e artística atual, foi devidamente revogada. Ou seja, essa suposição, decorrente decerto da denominação que a sala conservou, revelou-se imprecisa. Através de “registos de memória popular” e fontes (parcas, de certa forma), variáveis entre documentação escrita e imagética – sobretudo fotográfica – conseguimos percecionar a existência, no interior desta Sala, de retábulos de Talha dourada delaenses. Contudo e ao contrário do que se estabelecia, a arte presente na “Sala da Capela de Delães” não deriva de uma capela trasladada na sua totalidade para o espaço lamacense, nem tampouco toda a sua Talha provém sequer de Delães.

Esta sala é, de facto, um caso excecional no contexto colecionista de Henrique Amorim (1902-1977) pois é das poucas, senão a única, onde conseguimos percecionar a origem exata de apenas três dos seus Retábulos de Talha dourada. Os únicos que, entre si, documentados desde as “Memórias Paroquiais de Delães e Vermoim” de 1758 e disponibilizados para venda pelo próprio pároco em exercício num artigo de jornal de 22 de abril de 1960, constituíam a retabulística interior da antiga e demolida “Igreja do Divino Salvador de Delães” (localidade do Concelho e Comarca de Vila Nova de Famalicão e Paróquia da Arquidiocese de Braga). Uma Igreja Paroquial derivada do século XVIII, sobretudo de 1745/1746, ligeiramente intervencionada do ponto de vista estrutural em diferentes séculos e momentos da sua história, mas que resistiu até ao término de 1959 e alvores de 1960. Momento cronológico no qual, devido ao confinamento do seu espaço perante as necessidades crescentes do culto preconizado pela população local, por iniciativa civil, filantrópica e religiosa, procede-se à demolição dessa Igreja Matriz para, na mesma localização geográfica, se erigir um novo templo inaugurado ao culto a 8 de setembro de 1963.

Complementada por esculturas de Imaginária diversa - de datação variável no decurso dos sécs. XVII e XVIII, proveniências distintas entre si e os próprios retábulos, altares, nichos e peanhas que as acolhem e escolhidas, nalguns casos, para a atual iniciativa de "Restauro ao vivo" - a Talha dourada incorporada nesta divisão do Museu de Lamas, tanto os três registos delaenses como os restantes de geografias dispersas, salvo uma estrutura retabular de “Estilo Nacional” (1.ª metade do séc. XVII), e alguns pormenores avulsos de “Barroco Joanino” (vigente entre a 2.ª metade do séc. XVII e o decurso do séc. XVIII), enquadram-se na variante final do Barroco lusitano. Ou seja, na produção artística do Rococó - termo aportuguesado derivado do desígnio Rocaille, identificativo de “Rocalhas”, formas comuns na génese decorativa desta manifestação - votado à segunda metade do séc. XVIII, sobretudo ao desenvolvimento do 3.º quartel de setecentos.

Núcleos escultóricos e temáticas iconográficas 

À exceção dos três retábulos nos quais reconhecemos a origem exclusiva da demolida "Igreja Paroquial" de Delães, a restante retabulística que sela a cenografia, ao nível da talha dourada, da Sala da Capela de Delães e as esculturas de Imaginária exposta nos nichos e peanhas exibicionais, advêm de proveniências distintas entre si.

Todavia, apesar de não pertencerem, tanto quanto a investigação recente apurou, aos despojos artísticos trasladados desde Delães até Santa Maria de Lamas, a procedência das Imagens de vulto que esta sala acolhe é, à semelhança dos fragmentos de talha que sobejam aos três retábulos delaenses, desconhecida. Não obstante essa carência de dados e pretensa disparidade geográfica, a curiosa combinação destas esculturas neste cenário lamacense divide-as e agrupa-as em núcleos e iconografias complementares. Nomeadamente temas cristológicos (“Crucificação” e “Ecce Homo”), e apontamentos Franciscanos, com diferentes esculturas de São Francisco de Assis (promotor monacal, figura inspirada e estigmatizada à imagem de Cristo e da sua “Crucificação”).

São precisamente estes núcleos escultóricos e temáticas iconográficas que serão alvo de intervenção no âmbito do projeto “Restauro ao vivo no Museu”.

 

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